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zidos pelas intervenes medicamentosas configuram uma perpetuao
de condies de  mal-estar embasa-se nas representaes simbólicas
forjadas pelos próprios pacientes acerca da questo.
Em suma, sentir moleza e nada mais; sentir-se melhor, porm no
completamente; medo de viciar; desejar permanecer dopada e mais
nada; sentir-se como se estivesse vegetando e como se no vivesse, enfim,
fragmentos como estes, dentre outros apresentados, apontam eviden-
temente para representaes subjetivas, ordenadas por significantes-
mestres que definem o sujeito levando em considerao como este
no só vivencia tal  regulao psquica (experimenta-a inclusive
fisicamente), mas, sobretudo, como simboliza e atribui significados a
tal condio. A (ex)-sistncia dos sujeitos refere-se, ento, ao assujei-
tamento das subjetividades ante o significante outro (diagnóstico de
depresso) e ao remanejamento pulsional a que se prestam as inter-
venes medicamentosas.
Com relao identificao do sujeito com o diagnóstico que o
define, convm esclarecermos algumas das vicissitudes de tal pro-
cesso alienatório considerando que em nossa atualidade vigora um
casamento perfeito entre a exacerbada oferta farmacológica, de um
lado, e o desejo de apaziguamento pulsional, de outro. Ou seja, se por
um lado temos esse discurso social vigente representado pelo outro
social que assujeita as subjetividades por meio da identificao de
uma determinada condio como necessariamente patológica e pelos
efeitos da maquinaria medicamentosa, por outro lado temos, da parte
dos sujeitos, o desejo de autoalienao.
A alienao exige o encontro do sujeito com um outro sujeito que
deseja se alienar. Mais exatamente, com um desejo de alienar que deve
poder encontrar na cena social um outro sujeito cujo pensamento e ao
induziram a alienao numa parte ou na totalidade de seus semelhantes.
(Aulagnier, 1985, p.35  grifos do autor)
Vale lembrar que a seleo dos casos clnicos apresentados baseou-
se essencialmente naqueles em que o próprio indivduo definia-se
como depressivo, seja esse diagnóstico fornecido pelo outro da relao
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mdico-paciente, seja por uma identificao ao discurso social vigente,
seja ainda por uma identificao retroativa baseada na certeza subjeti-
vada sobre sua condio, tendo em vista as prescries medicamentosas
que recebeu em determinado momento.
Consideramos acertadamente tais vicissitudes da alienao, pois,
tal como nos ilustra Aulagnier (1985), o desejo de autoalienao busca
um outro que represente um potencial tal saber que possa atravess-
lo e defini-lo. Porm, interessante a meno feita pela autora com
relao cena social. Ou seja, no basta ser um outro qualquer, mas,
necessariamente, um outro reconhecido como Sujeito Suposto Saber
por uma coletividade propriamente dita, na medida em que o conjunto
de subjetividades identificadas refora a idealizao desse outro como
detentor de todo o saber que escapa ao próprio sujeito. Lembrando
ainda que esse outro dessa relao assimtrica (idem) tambm traz
em si o desejo de alienar-se, na medida em que acredita possuir tal
saber idealizado pela demanda e pela transferncia passional do sujeito
(paciente). Isto mantm estreita relao com a nossa problemtica in-
vestigada, levando em considerao que nos alamos a compreender a
(ex)-sistncia do sujeito depressivo em meio s aes, prticas, polticas
e modos sistematizados de atendimento e tratamento em sade pblica
no que concerne a essa questo.
Percebemos ento que o processo alienatório das subjetividades
 considerando especificamente os pacientes atendidos por nosso
trabalho clnico em uma rede bsica de sade  necessariamente
constitui-se pelo vis da identificao com o saber biomdico, sendo
tambm potencializado pela identificao com seus pares, ou seja,
outros pacientes tambm identificados com as mesmas prerrogativas
teraputicas. Foi nesse sentido que mencionamos anteriormente que
a alienao configurada por meio da identificao diagnóstica traria
uma relativa  tranquilidade aos sujeitos, uma vez que, por interm-
dio dessas diretrizes, o indivduo identificado a uma determinada
coletividade, sendo-lhe confortante a ideia de que no padece de um
 mal singular que corresponderia apenas a si próprio.
Tal identificao, que, como podemos perceber, retira as dimen-
ses de singularidade do sujeito, automaticamente liquida qualquer
A DEPRESSO COMO  MAL-ESTAR CONTEMPORNEO 153
possibilidade de incerteza sobre sua própria condio, uma vez que,
por meio do discurso do outro, pde encontrar uma verdade  comum
a todos , uma verdade compartilhada por todos que vivenciam tais
problemticas, e assim obtura-se toda e qualquer dimenso de conflito
inerente ao sujeito.
O processo de alienao implica a crena cega sob tal verdade
diagnosticada, o que exime o sujeito de questionar suas certezas e
tudo aquilo que o define e o identifica, ainda que seja como mais um
depressivo em uma sociedade e em um mundo depressivo. A esse respeito,
Aulagnier (1985, p.24) comenta sobre a  certeza do pensamento
presente no processo de alienao:
Este deslocamento, este indefinidamente deferido traz consigo a
promessa de realizao de um prazer, mas tambm de uma aspirao
particular que sustenta o conjunto do movimento do pensamento: poder
encontrar uma certeza quanto conformidade presente entre o pensamen-
to e a coisa. Certeza do pensamento que traria uma certeza identificatória
e que realizaria um desejo permanentemente presente na atividade do
pensamento: possuir uma verdade que calaria todo o questionamento
tornando, assim, desnecessria sua busca.
Observemos ento como, j desde uma formulao diagnóstica,
passando pela sua confirmao autenticada na identificao de seus
pares, o que se caracteriza desde o princpio a busca da acomodao
do pensamento, a fim de estagnar o movimento incessantemente
faltante do simbólico sobre o real. O desejo de alienar-se apodera-se
vorazmente de tudo aquilo que pode, em potencial, dessingularizar o
sujeito, ou, em outros termos, algo capaz de represent-lo e identific-lo
a outros, excluindo tanto quanto possvel os indcios de alteridade(s),
inclusive a particularidade de seus sintomas, o que torna desnecessria
qualquer busca de construo de sentido. Em ltima instncia, essa
 acomodao subjetiva e a  conteno pulsional a que tal identifi-
cao alienante conduz abrem caminho para a anulao do movimento
desejante no sujeito, e desejo vida!
Considerando a perpetuao do  mal-estar , constituda desde a
formulao diagnóstica, mas principalmente eclodindo por meio da
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reestruturao sintomtica devido s alteraes fsicas promovidas pelas
qumicas, podemos entender que as sensaes aversivas produzidas cor-
respondem ao reflexo de uma violncia atuante sobre o circuito pulsional
inerente ao sujeito. Essa violncia, por sua vez, caracteriza-se pelos
remanejamentos entre tipos e doses de diferentes medicaes que visam
ora  animar o  depressivo , ora apaziguar sua angstia inquietante.
Ser por meio dessa lógica que nos poderia ser possvel compre-
ender a perpetuao do  mal-estar como manifestao subjetiva
marcadamente depressiva na atualidade?
Nossa cautela nos priva de reconhecermos cegamente tal afirmao,
antes retomamos algumas questes pendentes necessrias compre-
enso do processo de alienao.
Seguindo no pensamento de Aulagnier (idem), percebemos que tal
processo no pressupe, necessariamente, uma patologia preexistente, [ Pobierz całość w formacie PDF ]

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