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Pode-se convid-lo a sonhar com um domiclio, com o in-
terior de uma casa. Pode-se cham-lo para suas recordaes
da infncia. Mas no se trata de uma regresso, de retornar
a felicidades esquecidas e sepultadas. Trata-se de mostrar,
pouco a pouco, ao ouvinte, a essncia do devaneio interior.
Eis porque o tema da casa, que o lugar da intimidade,
convm perfeitamente.
Basta fazer a experincia para se dar conta de que,
neste vasto mundo e em pessoas de cultura muito diversas,
existe um arqutipo da casa.
DEVANEIO E RDIO 179
Essa noo de arqutipo extremamente importante
em filosofia psicanaltica. Mas possui, em certos psicanalis-
tas, m fama. Sem dvida porque a teoria de Hobbes 
e Hobbes um idealista!
Logo, fale-se da casa. no importa a quem. Falar dela
tranqilamente. Falar dela pelo rdio, no momento em que
no se v o indivduo, no momento em que ele no v nin-
gum. Porque a ausncia de um rosto que fala no uma
inferioridade; uma superioridade; precisamente o eixo
da intimidade, a perspectiva da intimidade que vai se abrir.
Um ouvinte do norte, ou do sul, outro do leste, ou
do oeste. Mas cada um deles possui um arqutipo da casa
natal. Alguma coisa portanto mais profunda do que a casa
natal: aquilo que chamado num livro de a casa onrica, a
casa de nossos sonhos.
Se se quer ensinar, radiodifundir o devaneio e tocar o
pblico, coloquemo-lo numa casa, num canto dessa casa.
num reduto, talvez no celeiro, talvez no poro, talvez num
corredor, em algo inteiramente modesto, pois h um prin-
cpio de devaneio : o princpio da modstia do refgio.
Em seu livro Le Vieux Serviteur, Henri Bachelin re-
memora sua infncia, nessa casinha da qual o pai Bachelin.
como empregado, no o proprietrio. H um poro com
sapos, um celeiro com ratos. Chega a noite. Uma noite de
inverno na qual se realiza, precisamente, o princpio de in-
timidade. 0 autor explica todo o encanto de ouvir o aque-
cedor ressonar. E diz esta grande frase ; "Tinha a impresso
de estar numa cabana de carvoeiro. Estava numa casa bem
construda, onde assim mesmo havia tudo o que era neces-
srio para se estar tranqilo, feliz, abrigado." No, ele no
estava na cabana de carvoeiro, e diz: "'Amava sonhar."
Estava numa cidadezinha onde no havia lobos, mas gostava
de sonhar com o lobo "que vinha arranhar o umbral de
granito da casa".
Existe verdadeiramente um princpio de inferioridade.
necessrio achar algo inteiramente modesto, pobre. Sneca
falava de um quarto de pobre ; no podia fazer filosofia no
IBU O DIREITO DE SONHAR
palcio de Nero. ia faz-la no quarto onde dormia sobre
palha, e era assim que aprendia o estoicismo.
E mais : Charles Baudoin conta que as vacas tornam-
se neurastenicas quando os estbulos so muito claros. Tm
necessidade de um bom estbulo no qual existem ainda al-
gumas teias de aranha sobre a vidraa. Sem isso, no do
bom leite. Tambm a vaca tem seu princpio de interiori-
dade. Quer sua casa. esse ambiente modesto e profundo onde
vive o inconsciente.
Nesse ambiente modesto, nesse quarto de pobre de S-
neca, que preciso fazer sonhar o ouvinte. necessrio
lhe dar esse gnero de devaneio. Pouco a pouco ele ouve,
mas no escuta mais. A voz do locutor o empurra por trs
e lhe diz : "4Vai, vai ao fundo de voc mesmo. Eu, eu sigo
meu caminho, mas no dessa maneira. Minha cidade estava
ensolarada, porm escolhi cantos de sombra. Entramos na
noite: comeamos precisamente o caminho dos sonhos."
0 rdio d ao ouvinte a impresso de um repouso
absoluto, de um repouso enraizado. 0 homem uma planta
que pode se transplantar, mas preciso que sempre se en-
raze. Ele criou raiz na imagem apresentada pelo locutor.
Far florescer uma flor humana. Saber justamente que pos-
sui um inconsciente. Acabaram de traduzir para ele coisas
claras sob forma obscura. necessrio procurar um pouco
o obscuro. Num texto como este : '"E eu procuro minha me
e a ti que encontro, ó casa", h um sentido de ntimo calor
conservado. Estamos em presena de um arqutipo.
0 rdio est munido dessa possibilidade de transmitir
arqutipos? Um livro no estaria mais qualificado a faz-
lo? Provavelmente no : um livro voc fecha, reabre, no
vem a seu encontro na -solido, no vem lhe impor a soli-
do. Ao contrrio, o rdio est certo de lhe impor solides. [ Pobierz całość w formacie PDF ]

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